13 maio 2017

Da Psicologia à Psiquiatria...

No dia 4 de Maio para além da consulta de Infertilidade, tive também consulta de Psicologia.
No final, a Drª M diz-me que voltarei lá em Junho.
De seguida diz-me que na opinião dela deveria ter uma consulta de Psiquiatria. Como????Psiquiatra??A Infertilidade para além de tudo pôs-me maluca????
"..Não a sinto melhor...".Fiquei em silêncio. A Drª M "leu" os meus pensamentos e lá me explicou que a intenção não é dar-me medicação, que a Drª X até e contra a medicação e só a passa mesmo quando necessário.
Efetivamente, a palavra Psiquiatra assustou-me e pensei logo que não quero andar "dopada". A dor é muita, mas ela não vai desaparecer se me "entupir" de medicação.
A Drª M tem medo que desenvolva uma depressão reativa a todos os acontecimentos dos últimos anos.
Na minha humilde opinião, se me aconselhou a ir para Psiquiatria, é porque acha que já a "tenho"...
Ás vezes pergunto-me se não será esse o desfecho o normal. 
Seria suposto "sair" de três anos e meio de Infertilidade sem nenhuma mazela?
Seria suposto ao fim de 6 Tratamentos com doses enormes de hormonas, 3 Resultados Negativos e 3 Abortos estar a mesma pessoa?
Tenho a certeza que não.
Não me considero uma super mulher mas também não me considero fraca.
Se há 4 nos atrás me dissessem que eu iria "passar" por tudo isto eu diria: Impossível. Desisto na primeira derrota.
Mas não desisti. 
Lutei até onde pude.Olhando para atrás, nem sei como em certas alturas me mantive tão firme.
A Drª M diz que não me posso culpar pelo insucesso porque fiz tudo o que pude. 
Eu sei que fiz. Mas mesmo assim, o insucesso não se torna "leve".
Tudo isto seria mais fácil se pudesse culpar alguém. Se pudesse despejar a minha raiva em alguém.
Mas não posso. Não tenho culpados para apontar. 
A única culpada aqui sou eu. Sou eu que não engravido. Sou eu que não consigo levar uma gravidez até ao fim.
Tento diariamente não me ir abaixo. Tenho, sem dúvida, muitas coisas boas na minha vida. Mas não é por isso que a dor e a tristeza de ser Infértil se tornam menores.
Ouço muitas vezes as pessoas dizerem: " Tudo acontece por uma razão". Tive até quem me dissesse isso quando abortei. Mas que raio de razão é esta que me impede a mim de ser mãe?
Há dias que passam na normalidade. Há outros que sinto algo dentro de mim a "rasgar-me".
A dor é muita. 
A tristeza é muita. 
O sentimento de impotência é avassalador.
Perdi uma guerra contra um inimigo invisível. Não tem nome. Não tem rosto. Mas ganhou!




8 comentários:

  1. Querida, acho que não é suposto sair da infertilidade e passar pelos 3 abortos sem mazelas. Acho que por mais feita de aço e ferro que alguém seja, por mais forte que se seja, por maior capacidade de encaixe que se tenha é impossível sair ileso desta batalha cruel e injusta contra o tal inimigo sem rosto, sem nome, invisível.
    Para as pessoas é muito fácil, infelizmente, desvalorizar a dor do outro, é assim o ser humano. Quando a dor não é a nossa, quando não a vivemos, quando não a conhecemos, não a percebemos e não a valorizamos. Quando o problema não é nosso conhecido ou ficamos calados ou acabamos muitas vezes por dizer coisas absurdas ou que magoam mais do que ajudam. Como na infertilidade e no aborto, por exemplo. Frases como: tens que ter calma, quando não pensares nisso acontece, o x e a y só conseguiram quando fizeram assim, vai correr tudo bem, ou a melhor que já me disseram talvez Deus não queira que tenhas filhos, ou talvez seja melhor assim, tal como essa do tudo acontece por uma razão. As pessoas que, já sabemos, não fazem por mal, deviam aprender a fechar a boca, porque ás vezes a infertilidade pode ser pesada de mais por si só e, ás vezes, a tampa da panela salta e, ás vezes, podem ter que ouvir qualquer coisa que,ás vezes, pode cair mal.
    Como dizes, a dor é muita e a tristeza também, por isso, a consulta de psiquiatria pode ser um caminho importante, não quer dizer que estás maluca, quer dizer que naturalmente tens feridas profundas, que precisam de ajuda para ganhar tecido, ganhar elasticidade que mesmo que doam sempre, é preciso ajuda, para que doam cada vez menos.
    Nem toda a medicação é para sempre, nem para estares dopada, a medicação pode ajudar um pouco, se for mesmo necessária, não para mascarar a dor, mas para ajudar a ultrapassar. Eu já tomei anti-depressivos, fraquinhos em determinada altura e ajudaram-me naquela altura.
    Tens toda a razão para sentires o que sentes, percebo cada palavra, compreendo profundamente tudo o que escreves. A infertilidade é uma doença, embora me pareça que não é reconhecida como tal. É uma doença verdadeira, com meandros complicados, com envolvimento físico, psicológico e emocional, para mim ser infértil é também falta de saúde. Isto, porque me sinto muitas vezes culpada, ainda por cima, por ter saúde e estar triste, mas não ter saúde mental, é não ter saúde. Como escrevi em julho passado: Podemos dar graças, todos os dias, pelo que temos de bom nas nossas vidas, podemos e devemos. Mais, é a nossa obrigação agradecer por estar vivos, por amar, por ser amados, por ter presente nas nossas vidas os que amamos, por eles terem saúde, pelo sol brilhar, pelo mar ser azul, por existirmos. Temos o dever de acordar e dar graças a Deus, ou aos Deuses, ou ao céu, ao mar, ou a todos ou a nada. Ainda assim, esta dor não desaparece, não vai embora, tentamos mascará-la, escondê-la, colocá-la lá no fundo da gaveta, mas ela teima em estar lá, sempre a pairar. (...)Porquê eu? Porque fui eu a escolhida?" A dor está sempre lá.

    Beijinho grande e desculpa o testamento, força e coragem, um dia de cada vez

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    1. Dream não tens que pedir desculpa por "testamentos". Estes cantinhos são mesmo para isso.
      É verdade que a infertilidade é uma doença, mas não reconhecida. Na cabeça de muitas pessoas se não temos filhos é porque, por algum motivo não "merecemos".
      Ao longo destes anos já ouvi de tudo....
      Eu sei que a Psiquatria não é sinónimo de estar maluca, mas acho que só agora estou a ter a real noção do que a infertilidade me "fez".
      Tem mesmo que ser um dia de cada vez e (tentar) aprender a viver com a derrota.
      Beijinho grande e obrigada pelo apoio

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  2. Minha querida são mais que normais as mazelas que a infertilidade deixou em ti... já passaste por muito. Por muito que tentemos, somos o resultado final das nossas vivências, e as tuas nos últimos tempos não têm sido boas... mas tu és forte. Vais ultrapassar esta fase menos boa.

    Podes tudo, sentir-te miserável, chorar, gritar, mas não te podes, em momento algum, culpar-te. Efectivamente ninguém tem culpa... e tu muito menos que te sujeitas a tratamentos e mais tratamentos com uma agressividade que nem damos conta enquanto os fazemos... só depois. Por vezes olho para as pessoas que me rodeio e vejo a inocência boa delas... penso quantas aguentariam aquilo por que estou a passar! Mas depois penso que é presunção da minha parte... essas pessoas podem não ter problemas de infertilidade mas terem outros que lhes consomem a cabeça e a alegria de viver. Isto de se "viver um dia de cada vez" tem muito que se lhe diga.

    Beijinho grande

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    1. Mylittlefairytale por muito que saiba que fiz tudo o que podia, por muito que seaiba que me levei ao limite para tentar ser mãe, a "culpa" está sempre por aqui....
      É como tu dizes, todos temos problemas, não existem vidas perfeitas..cada um vai travando diariamente as suas lutas...
      Beijinho Grande. Espero que as férias te tenham ajudado a recuperar energias.Obrigada!

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  3. Realmente de fraca não tens nada, muito pelo contrário! É só descobrimos a nossa força quando somos obrigadas a usá-la!
    Compreendo como te sentes, também o sinto por vezes, mas temos realmente de fazer um esforço para nos convencermos que não temos culpa! E não temos mesmo!
    A psiquiatria não é uma coisa má, aliás até pode ser uma coisa positiva e que te ajude a ultrapassar todo este caminho, cheio de dificuldades!!

    Um xi apertadinho e muita força!! **

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    1. Ana

      Nós sabemos que não temos culpa...mas esse sentimentos será sempre uma nuvem para mim.

      Obrigada

      Beijinhos e muita força para ti

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  4. Este é mesmo um caminho que só conhece quem tem de o percorrer. Quem está de fora não compreende, nem pode compreender. E ainda bem - é sinal de que tiveram mais sorte neste campo. É um caminho que deixa marcas. E porque não aceitar ajuda para lidar com elas?
    Espero sinceramente que o caminho tenha um final feliz - seja ele qual for, seja ele como for!
    Um abraço, de quem anda por caminhos semelhantes há mais de 5 anos.

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    1. Infelizmente deixa muitas marcas.
      Sigo o(s) teu(s) "caminho(s)" e estou a torcer por ti.

      Beijinhos

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