31 agosto 2017

Dois Anos Depois

O tempo voa...
Faz hoje dois anos que o mundo desabou sobre mim quando o Dr. Cristiano me disse " não há batimentos".
Quando se ouve uma coisa destas entra-se numa espécie de transe, e sair dele não é fácil.
Dois anos passaram, e lembro-me como se fosse hoje. 
Tenho a certeza que nunca irei esquecer. Há sentimentos que sei que nunca me irão abandonar. O de Injustiça é um deles.
Percorri um longo e árduo caminho nestes últimos anos. Na verdade, continuo a percorrer, apenas mudei de direção.
O que antes era uma luta para ser mãe, tornou-se numa luta de "aceitação" de que não posso sê-lo.
A quem andou, anda ou andará nesta luta desejo do fundo do coração que o desfecho seja diferente do meu.
Qualquer mulher ( a maior parte pelo menos) que não consegue ser mãe sente-se inferior, sente-se menos mulher. Pelo menos eu senti isso.
Na realidade, estamos erradas. Todas nós que passamos por isto somos Grandes Mulheres.
Todas nós que lutamos até ao limite ( e muitas vezes para além dele) das nossas forças para tentar ter um filho somos um exemplo de força.
Esta luta causou-me danos incalculáveis a nível psicológico.
Chorei muito ao longo destes anos. Chorei de alegria quando algo corria bem, mas acima de tudo de tristeza quando algo corria mal.
Tornei-me numa pessoa fria e distante de muita coisa que me fazia bem.
Tive fases de isolamento do mundo. Tive fases em que deixei de fazer o que gosto e com quem gosto.
É contra tudo isto que agora tenho de lutar.
Para quem anda nesta luta só posso aconselhar que não façam isso. Será difícil, mas nada neste caminho é fácil.
Não me esqueci que tenho 2 embriões. No entanto, acho que a Drª M tem razão quando diz que só irei fazer a TEC para "cumprir calendário".
Sei que deveria pensar que ainda pode correr bem. Mas não penso. Toda a minha história aponta noutra direção. A minha idade avança. São tudo fatores contra.
Neste momento, decidi que não faço TEC. 
Preciso de encontrar a minha paz interior, o meu caminho sem filhos.
Para o ano se estiver preparada farei. Ou não. Só o futuro dirá.

" Depois de escalar uma montanha muito alta, descobrimos que há muitas outras montanhas por escalar."

Nelson Mandela

29 agosto 2017

Por cá....

Hoje foi dia de Consulta de Psicologia.
Sexta será a "vez" da Psiquiatria.
Dia 6/9 será dia de consulta de PMA.
A Dra. M continua a ser, sem dúvida alguma, uma querida e que acima de tudo me tem ajudado muito.
A conversa flui e passam 1.30 minutos a voar.
Hoje foi a consulta em que menos lágrimas houve.
Quando me questionou se eu já estava a interiorizar o facto de viver sem filhos eu respondi prontamente que não. Gostava, quero, mas está a ser difícil.
Contei á Dra. que quando recebi um convite para um batizado o meu primeiro pensamento foi " Mais uma festa em que só tu é que não vais ser mãe de alguém."
Quando o meu inconscientemente "pensa" assim mostra-me que ainda tenho muito para interiorizar.
Ando ( estupidamente) resistente a tomar os antidepressivos. Tenho um pavor enorme de ficar viciada.
Confesso que me apavora tomar a medicação e fazer a TEC. 
Até agora sempre estive de "bem comigo" , sempre com a consciência tranquila que fiz tudo o que podia para tudo correr bem. Fazer a TEC a tomar antidepressivos tenho a certeza que iria ser uma sombra ( um fantasma) na minha cabeça e que me iria culpabilizar pelo insucesso ( que pode ocorrer).
Perante tudo isto e com o aconselhamento da Dra. M , decidi que na consulta de PMA vou pedir nova marcação só para o próximo ano.
Não me sinto preparada para avançar com a TEC. Por muitos e variados motivos sinto necessidade de primeiro  "cuidar " de mim. Tenho que "arrumar" a minha cabeça para ter capacidade para lidar com a avalanche que "caiu" sobre mim nos últimos anos.
A avalanche chamada Infertilidade. 


"Não viva no passado , não sonhe com o futuro, concentre a mente no momento presente."


Sakyamuni

17 agosto 2017

O antes e o depois...

"Hope and expectation precede each round of treatment. If the treatment fails, hope and expectation are quickly replaced by despair and depression."
É mesmo isto que sentimos: o antes e o depois de um tratamento falhado.
Um artigo interessante. A infertilidade "falada" por um homem ( raro acontecer).

https://www.irishtimes.com/life-and-style/health-family/parenting/when-they-told-me-i-was-infertile-i-was-consumed-by-shame-1.3180573?mode=amp

11 agosto 2017

(Tentar) Aprender a viver sem..

11/08/2015: Faz hoje dois anos que tive o meu 3º ( e último) positivo.
Quando abri o mail e vi 536.00 o meu coração saltou. Sabia que era um valor ótimo.
Dois dias depois vi 1526.00 e 7 dias depois 6425.00.
Parecia estar tudo a evoluir dentro da normalidade.
Mas mas não correu bem.
Dois anos passados e ainda não curei as feridas. Na verdade, tenho sérias dúvidas se algum dia isso vai acontecer.
Hoje recebi um convite para um batizado. 
Dei por mim a pensar: mais uma festa em que só tu é que não és mãe de ninguém....
Para mim, o tempo não tornou a dor menor. Gostaria de dizer o contrário, mas estaria a mentir.
Aprendi a abstrair-me das conversas. Senti necessidade de o fazer.
Quando a conversa num grupo fica a girar em torno dos filhos, eu não aguento.É dor a mais para mim.
Tenho que " deixar de ouvir" e "viajar" para longe. Nesses momentos sinto-me a explodir. Sinto que a tristeza e a raiva se vão juntar e me vão "rasgar".
Ninguém tem culpa. Na realidade, ninguém tem de deixar de falar das alegrias que os filhos dão só porque está uma infértil presente. Mas eu não aguento.
Pensei que o tempo diminuiria a dor, mas na realidade não.
Nada vai preencher o vazio que sinto por não ter um filho.
As portas fecharam-se. Os tratamentos acabaram e a adopção foi uma porta fechada antes de ser realmente aberta.
Sinto, e sei que não estou errada, que ninguém entende esta dor. Quando digo ninguém, incluo também o meu marido.Por muito que ele queira um filho comigo, o vazio não é o mesmo.
Ele tem histórias para partilhar, ele tem quem lhe chame Pai.
Na realidade, nem eu sei explicar a "dor" permanente que sinto. Depressão reativa é o termo clinico ( segundo a Psicóloga). 
Seja qual for o nome , doi muito. E já percebi que me vai doer para sempre.
Com a infertilidade tornei-me revoltada.
Não aceitei até hoje ( e duvido que algum dia aceite) esta injustiça. 
Estou apenas a (tentar) aprender a viver com a injustiça....e sem filhos....
O tempo ( não ) cura tudo.